Jerônimo Rodrigues não cometeu crime algum. Não atentou contra a vida, não propagou violência, não foi intolerante. O que ele fez foi tocar em uma ferida aberta que o Brasil insiste em esconder. E isso, em um país marcado pela hipocrisia de sua elite política, é suficiente para que se tente destruí-lo. A frase usada pelo governador — “enterrar numa vala os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro” — foi imediatamente arrancada de seu contexto, rasgada em pedaços e utilizada como arma midiática para deslegitimar uma liderança que, diferente de tantos, não tem medo de falar a língua do povo.
A metáfora usada por Jerônimo é comum entre os que vivem no Brasil real. No sertão, nos subúrbios, nas periferias e nos rincões esquecidos pelo poder, dizer que algo precisa ser enterrado significa encerrar um ciclo que causou dor. Jerônimo não falava de enterrar pessoas — falava de enterrar uma ideia. Uma estrutura. Um projeto político que aprofundou as desigualdades, debochou da dor do povo, desprezou a ciência, destruiu políticas públicas e multiplicou as mortes evitáveis. A vala, ali, é simbólica: é a imagem de um fim necessário para que o país possa renascer.
Aqueles que se fingem escandalizados com a fala do governador são os mesmos que permaneceram em silêncio durante os quatro anos em que o bolsonarismo promoveu ataques sistemáticos contra a dignidade humana. Não ergueram a voz quando o presidente riu de pacientes, debochou de vacinas ou negou oxigênio a crianças. Não demonstraram qualquer incômodo com os discursos que associavam favelados a bandidos, professores a inimigos, pobres a preguiçosos. Mas agora, diante de uma metáfora popular, os senhores da moral querem ensinar ética a Jerônimo Rodrigues.
O que está em jogo não é uma frase. É a tentativa de sufocar uma liderança popular que ousou fazer o que muitos evitam: dar nome aos fantasmas do nosso tempo. Jerônimo não recua. Porque não é feito de papel, nem guiado por marketing. É feito de barro, de chão, de fé. E sabe que, para que o novo floresça, o velho precisa ser enterrado. Sua fala não é uma ameaça. É um ritual de passagem. É o clamor de um povo que perdeu muito — e não aceita mais perder o direito de sonhar.
